Banjar: onde deuses e mortais se encontram

Banjar: onde deuses e mortais se encontram

Motocicleta, carro, caminhão… Uma poluição sonora danada à sua volta… E de repente todos os ruídos somem, anulados por uma música altamente ritmica, de padrões cadenciados, metais, tambores, percussão com certeza, repetindo e repetindo e repetindo sem fim. Uma voz humana entoa sons melódicos sem formar palavras. Na primeira vez a gente até estranha, mas logo aprende: essa música indica que estamos próximos de um banjar em festa.

Espalhados virtualmente por toda a ilha de Bali, os banjares são provavelmente a instituição social e religiosa mais presente na vida dos balineses adeptos do hinduísmo. Misto de espaço sagrado centro comunitário, eles são criados e mantidos pelos próprios moradores de um determinado bairro, ou grupo de ruas. Existem aproxidamente quatro mil banjares na ilha.

O que são os Banjares balineses

  • Espécie de cooperativa, onde os integrantes colaboram entre si para organizar cerimônias religiosas, eventos familiares, rituais e oferecer apoio emocional e financeiro em momentos de crise.
Banjar: onde deuses e mortais se encontram

O que siginfica a palavra banjar?

Oficialmente, a palavra Banjar não tem uma tradução. Na prática, ela quase assume a função da palavra bairro. Em Bahasa existe uma palavra para bairro, lingkungan, mas pelas ruas as pessoas só se referem ao banjar para falar sobre o local onde moram. Isso acontece porque os banjares reúnem famílias que vivem numa mesma área ou vila.

Normalmente, entre 50 e 200 famílias se unem em torno de um banjar e quando um bairro cresce muito, um novo banjar é constituído para reunir as novas famílias. Os banjares têm uma sede física no bairro. Dentro dele há pelo menos um altar para a devoção aos deuses hindus , mas alguns, de grande porte, são contíguos a templos. Todos contam, ainda, salões, chamados de bale banjar, para receber os membros da comunidade em festas.

Nos dias de semana, quando não estão sediando eventos, os banjares são usados para aulas de dança, ginástica, prática de esportes abertos à comunidade. Caio, por exemplo, faz aulas de badminton numa quadra situada num banjar. O vídeo abaixo mostra o som religioso a que me referi no início do texto e um outro banjar sendo usado para aula de dança em uma comunidade em Singakerta, na região de Ubud.

Vídeo sobre os diferentes usos dos banjares. Imagens: Ferdinando Casagrande e Priscila Ramalho.

Uma espécie de condomínio

O funcionamento administrativo dos banjares é muito semelhante ao dos condomínios no Brasil. Os líderes são eleitos pelos moradores para mandatos de cinco anos e administram o orçamento recolhido com as taxas pagas pelos moradores. Como nos condomínios, é difícil conseguir candidatos a líder do banjar, porque a quantidade de trabalho é enorme, com tantas festividades religiosas. Mas, como os banjares são uma instituição quase sagrada, alguém acaba se oferecendo para o cargo e, como acontece com os síndicos no Brasil, quase sempre é eleito por unanimidade.

Quem participa do banjar?

Todo homem maior de idade e casado deve fazer parte do banjar na localidade em que vive, desde que seja praticante do hinduísmo. Isso significa não só pagar a taxa cobrada, como também participar ativamente das festividades organizadas. Alguns eventos religiosos, inclusive, são obrigatórios e os moradores que não comparecem ficam sujeitos ao pagamento de multas.

Cristãos e muçulmanos também podem fazer parte dos banjares. Embora não sejam obrigados a isso, é esperado que se inscrevam e paguem as taxas. Até os estrangeiros que residem permanentemente em Bali, e não são poucos, pagam as contribuições.

Os tipos de banjar

  • Banjar Adat – Mais relacionado a questões religiosas e culturais. É onde normalmente acontece as festas e rituais religiosos.
  • Banjar Dinas – É uma espécie de poder local. Administra questões sociais e de governo.

Os moradores reconhecem a autoridade dos banjares. Sempre que precisam dar uma festa, marcar um casamento, ou mesmo iniciar um novo negócio, eles consultam os líderes do banjar. Em Bali, um ditado diz que quem pertence a um banjar, nunca está sozinho. Isso é verdadeiro, especialmente nos momentos difíceis da vida, quando a comunidade do banjar se une para prestar apoio emocional, espiritual e até material ao membro em necessidade.

A pior coisa que pode acontecer na vida de um balinês é ser expulso do seu banjar. Sem o apoio dessa instituição, ela pode perder sua propriedade e quando morrer, dificilmente conseguirá ser enterrada na vila onde vive. Embora o hinduísmo pregue a cremação dos mortos, um ritual de cremação é muito caro em Bali e muitas famílias enterram seus mortos.

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