O sol se punha no horizonte. Das montanhas na costa, um príncipe e uma princesa javaneses da casta Brahma, a mais elevada no hinduísmo, assistiam o espetáculo. Seduzidos pela beleza do cenário, os dois se entregaram aos prazeres da carne. Problema: eles não era casados. Ato consumado, já sabe: o princípe canalha virou sapo. Em outras palavras, largou a princesa deflorada na beira do penhasco. Ela, então, rogou praga. Todas as vezes que um casal de namorados visitasse a ilha de Bali, a maldição faria os pombinhos se separarem. Uma lenda inegavelmente péssima para os negócios do turismo. O pessoal, então, deu um jeito de confinar a praga ao local onde a história teria acontecido. Nós visitamos esse lugar. No post de hoje, portanto, vamos contar sobre a beleza e a maldição do templo de Tanah Lot.
História ou lenda?
Não é tão simples assim diferenciar uma coisa da outra na Ilha de Bali. O registro de escrita balinesa mais antigo data do século 9 depois de Cristo. Escrituras religiosas e legais de fato, porém, só surgem com maior consistência entre os séculos 13 e 16.
Por isso, é difícil determinar precisamente a origem do templo de Tanah Lot. Os registros situam a construção no século 16. E aí entra toda uma mitologia associada à edificação. Envolve uma figura mítica chamada Dang Hyang Nirartha, uma espécie de catequizador que teria eventualmente viajado de Java para Bali com a missão de espalhar o hinduísmo na ilha.
Nirartha era uma espécie de mago com superpoderes. Segundo a mitologia, ele teria convertido o rei balinês na época, Raja Dalem Waturenggong. O Raja, então, o autorizou a percorrer as vilas da ilha, onde o mago religioso estabeleceu o sistema de três templos que existe até hoje: ao Norte, um templo dedicado a Brahma; ao centro, o templo dedicado a Vishnu e, ao sul, outro dedicado a Shiva (leia mais sobre os deuses e templos hinduístas aqui e aqui).
A resistência em Beraban
Enquanto peregrinava pela costa sul da ilha, Nirartha teria avistado um rochedo ilhado próximo a uma praia. Ele decidiu passar a noite no local. Teve uma visão do rochedo como lugar sagrado, e resolveu construir ali um templo.
O rochedo era parte da vila de Beraban e o chefe local, Bendesa Beraban Sakti, não gostou nada daquela invasão. Ordenou aos moradores que expulsassem o lunático de lá. Nirartha, então, apelou aos superpoderes. Moveu o rochedo para fora da praia, em direção ao mar.
Ali ele construiu o templo de Tanah Lot, que significa, literalmente, rocha no meio do oceano. O povo, ao assistir àquele evento sobrenatural, teria então se convertido fervorosamente ao hinduísmo. O templo foi dedicado a Bathara Segara, o deus do oceano.
A serpente e Keris
Para proteger o templo de invasões diabólicas, Nirartha transformou a faixa que usava na cintura numa cobra marinha venenosa e gigantesca. A lenda acredita que a serpente habite o interior do rochedo até hoje.
Antes de partir da vila, em agradecimento pela conversão do chefe local, Nirartha teria presenteado os moradores com um Keris. Espécie de adaga cerimonial, o Keris deixado por Nirartha teria o poder de exterminar todas as doenças das plantas, o que garantiu ao povoado de Beraban safras sempre saudáveis e fartas.
O Keris fica no palácio Kediri, que foi a sede do reino de mesmo nome em Bali, no período medieval. A cada seis meses, conforme a tradição, uma cerimônia renova seus poderes no templo de Tanah Lot.
O templo de Tanah Lot hoje
Nem todos os poderes da serpente ou do Keris, porém, foram suficientes para impedir os efeitos naturais da erosão marinha e eóllica no templo de Tanah Lot. No final da década de 1980, esforços começaram a ser feitos para preservar o rochedo da abrasão.
Nas décadas seguintes, o rochedo principal foi protegido com a instalação de recifes artificiais. Eventualmente, outras melhorias foram feitas no início dos anos 2000 e incluíram a instalação de um parque protegido na área em redor, com organização para recepção de turistas e cobrança de ingressos.
A estrutura inclui restaurantes, sanitários, estacionamento e áreas de comércio bem delimitadas.
Os casais de namorados, porém, continuam tendo de visitar o local por conta e risco próprios.
A maldição do templo de Tanah Lot
A popularização da maldição não deve ser creditada à pobre princesa deflorada, mas sim a um casal de “príncipes pops” dos estúdios de Hollywood.
Sim, Julia Roberts não é a única culpada desta vez. Ela ganhou a companhia de George Clooney na comediazinha romântica meia-boca que o casal de estrelas protagonizou em 2022, e que no Brasil recebeu o título de Ingresso para o Paraíso (Ticket to Paradise, disponível para assinantes no Amazon Prime Video).
Na história, a filha do casal vai passar férias em Bali após se formar na faculdade. Lá, se apaixona por um jovem balinês. Decide se casar e permanecer na ilha. Os pais – que são separados – viajam para Bali dispostos a fazer de tudo para impedir essa loucura.
Você pode ver o trailer abaixo mas, por favor, não me responsabilize se decidir assistir o filme.
Planeje sua visita ao templo de Tanah Lot
- O templo de Tanah Lot está localizado a cerca de 30 quilômetros do Aeroporto Internacional de Bali, em Denpasar.
- O endereço oficial é Jl. Raya Tanah Lot, Kawasan Pura Tanah Lot. Beraban Village, Kediri, Beraban 82121. Link no Google Maps.
- O horário do por do sol oferece as vistas mais impressionantes, mas a concorrência com os turistas é feroz. Se optar por visitar o templo pela manhã, o local estará mais tranquilo.
- Dentro da área do parque, você só pode circular a pé. Carros e motos devem ficar no estacionamento. Motocicletas pagam 3 mil rúpias pela vaga (cerca de R$ 1,20) e automóveis pagam 5 mil rúpias.
- Há diversos restaurantes e warungs locais na região do templo. Quase todos com mesas na beira do penhasco que dá vista para o mar e para o templo de Tanah Lot.
- Além de Tanah Lot, outro templo famoso no mesmo complexo é o templo de Batu Bolongo, que quer dizer literalmente “pedra oca”.
- Os ingressos para visitar os templos têm preços variados:
- Estrangeiros: 75 mil rúpias indonésias (cerca de R$ 50).
- Crianças estrangeiras de 5 a 10 anos: 30 mil rúpias indonésias.
- Adultos com visto de residência na Indonésia: 30 mil rúpias.
- Crianças de 5 a 10 anos com visto de residência: 20 mil rúpias.
- Os ingressos podem ser comprados no local, com pagamento em dinheiro ou cartão.
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