Monges budistas na beira do rio Tonlé Sap. Camboja: Bem-vindo à Ásia autêntica

Camboja é um mergulho na Ásia autêntica!

Qual a primeira imagem que vem à sua mente quando você ouve o nome Camboja? A minha imediatamente faz associações com Guerra do Vietnã, Khmer Vermelho, genocídio… Eu pouco sabia, para não dizer que nada sabia, sobre esse vizinho do Vietnã. Os cinco dias que passamos lá, porém, se revelaram curtíssimos para tanta história e cultura. O Camboja é um mergulho na Ásia autêntica!

Por isso, no texto de hoje farei uma rápida contextualização do país, sua importância histórica na região e traçar um panorama da capital, Phnom Penh, nosso porto de chegada. Nos próximos dias, teremos pelo menos mais três textos: um sobre a fascinante produção de seda numa ilha ao lado Phnom Penh, um sobre Mondul Kiri e o Vale dos Elefantes, e outro sobre Siem Riep e o monumental Angkor Wat.

De Kampuchea a Camboja

Historicamente, o país que hoje chamamos de Camboja se autodenominava Reino da Kampuchea. Uma palavra derivada do sânscrito Kambuja, que significaria “terra da paz e da prosperidade”. Poético e bastante adequado quando sabemos que por muitos séculos, o Reino da Kampuchea foi um dos mais prósperos e dominantes da região.

A pronúncia na língua local, o Khmer, é Kampúchia. É importante destacar isso porque foi a oralidade da palavra que causou a mudança do nome.

Eu poderia escrever parágrafos sobre a história antiga do Camboja. Vou reprimir minha veia histórica por aqui, porém, para poupá-los de uma aula chata, como dizem meus filhos. Avancemos ao que interessa.

Indochina Francesa

Em 1863, cansado de sofrer ataques dos tailandeses, o rei Norodon pediu proteção ao imperador Napoleão III. Os franceses incorporaram a Kampuchea – que eles pronunciavam Cambúdge – como protetorado na colônia da Indochina, que incluía Vietnã, Laos e terras ao sul da China.

Assim a Kampuchea virou Cambodge. Mais tarde, Cambodia no inglês dos norte-americanos. Que nós, em português, chamamos de Camboja.

Ela voltaria à grafia original em 1975, no período mais sangrento da história recente do país. Vamos falar sobre isso, também, mas apenas num post futuro.

Tuk-Tuk para quatro

Uma das melhores coisas de se viajar com adolescentes é o humor afiado que eles às vezes demonstram. Depois da experiência ultrapasteurizada em Singapura – tudo perfeitinho, planejadinho, limpinho –, a chegada a Phnom Penh foi, digamos, impactante.

Já na saída do aeroporto, o e-sim que prometia internet em 13 países da Ásia não funcionava. Nossa intenção era pegar um Grab, mas, sem rede, nada feito.

Em poucos segundos, nos vimos com as malas e mochilas cercados por motoristas de táxi e tuk-tuk disputando a corrida. Todos ao mesmo tempo. Básico. Não pode faltar num mergulho na Ásia autêntica. Mas não deixa de ser um pouco estressante.

Ainda não tinhamos feito câmbio e não dispunhamos de Riels, a moeda local. Embora o dólar americano seja aceito normalmente nas ruas, nós só tinhamos cédulas de 100 e não queríamos encher o bolso de dinheiro cambojano. Um dólar comprava, na época da viagem, 4 mil riels.

Pegada RJ

Preço acertado, embarcamos com bagagem e tudo num tuk-tuk meio apertado que disparou pelas avenidas e ruas amplas da capital a caminho do nosso hotel.

Depois de observar os prédios velhos e mal-cuidados, a enorme profusão de barraquinhas nos intermináveis mercados de rua, nosso filho Luca, 14 anos, saiu-se com a melhor definição inicial da capital cambojana.

– É, tem uma pegada RJ.

E não é que ele tinha razão? Antes que Luca nascesse, eu e Priscila moramos por três anos no Rio de Janeiro. De lá guardamos boas memórias. Talvez isso ajude a explicar a minha imensa boa vontade com o Camboja, que começou a nascer ali mesmo, dentro do tuk-tuk e só aumentou ao longo da viagem.

Não tem praia, mas tem calçadão

Antes que os amigos cariocas comecem a surtar, a analogia de Luca com o Rio de Janeiro se referia ao jeito mais relaxado e cheio de personalidade de Phnom Penh. A capital do Camboja jamais poderia ser comparada à Cidade Maravilhosa. Para o bem e para o mal.

Em Phnom Penh, por exemplo, não há violência. Em nenhum momento o turista se sente ameaçado. Também não tem praia. Só dois rios – o Tonlé Sap e o Mekong – e um calçadão às margens to Tonlé Sap que vira um grande parque público no final de tarde.

Passeamos por lá num domingo, onde fotografamos os monges que estão na foto de abertura deste post.

Uma das coisas mais curiosas que vimos nesse calçadão foi uma espécie de futevolei sem rede e jogado com peteca. A destreza dos homens adultos chutando a peteca de um lado para o outro sem deixá-la cair era realmente impressionante. Assista o vídeo abaixo.

Templos e palácios

O Camboja é uma monarquia constitucional. Tem um rei sem poderes e um primeiro-ministro com podere demais. O atual prêmie é o general de Exército, Hum Manet. Ele assumiu em 2023, recebendo o cargo de seu pai, Hun Sen, que estava no poder ininterruptamente desde 1997.

O Palácio Real, considerado uma joia da arquitetura Khmer, fica próximo do calçadão às margens do Tonlé Sap. É possível visitá-lo durante o dia, pagando ingressos. Um dos passeios recomendados é fotografá-lo à noite, quando fica todo iluminado. Nós não conseguimos encaixar esse passeio na agenda, mas passamos no final de uma tarde por ali.

Bem ao lado do Palácio Real, fica o principal o Wat Ounalom, um templo budista edificado no século XV e outro ótimo exemplo da arquitetura Khmer. Depois de ser hinduísta por vários séculos, o Camboja começou a ser convertido ao budismo a partir do século 13 e hoje essa é a principal religião por lá. Aliás, os monjes budistas circulam por toda a parte nas ruas da capital. Na manhã seguinte à nossa chegada, eu testemunhei uma cena peculiar. Numa rua perto do hotel, uma comerciante abordou um monge para doar alimentos em troca de uma benção.

O mercado noturno

Após a caminhada no parque às margens do rio, encerramos nosso dia numa visita rápida ao Mercado Noturno de Phnom Penh, que funciona bem próximo ao terminal de barcos do Sonlé Sap.

Mercados de rua são uma tradição muito antiga na Ásia. Você não pode visitar a região sem passear por eles. Para alguns especialistas em Ásia, visitar o mercado é a melhor forma de conhecer a vida real dos moradores das cidades nessa região.

Em Phnom Penh, o Mercado Noturno oferece uma grande variedade de artigos. De roupas produzidas com a seda extraída na Ilha da Seda a bijouterias, passando por souvenirs, flores, hortifruti fresco, flores e, claro, as tradicionais barraquinhas de comida khmer de rua.

Os carrinhos de comida ficam na parte traseira do mercado. Você compra a comida no carrinho e se senta no chão, numa imensa área recoberta pelos comerciantes com tapetes e protegida da chuva por coberturas de lona.

Planeje a sua visita

  • No Camboja, bem como em toda a Ásia, não existe Uber. As operações do Uber foram compradas em 2018 pela Grab, uma empresa de transporte por aplicativo sediada em Singapura.
  • Os tuk-tuks são mais baratos do que táxis, mas você não precisa pegá-los na rua. Também é possível pedi-los pelo Grab.
  • A época de chuvas no Camboja vai de maio a outubro, com o pico em setembro.
  • Inclua capa de chuva na sua bagagem, mesmo que esteja indo na temporada seca. Quando a chuva chega, ela não avisa. Despenca de repente com toda a força sobre a sua cabeça.
  • O Mercado Noturno de Phnom Penh funciona de quarta a domingo, das 17h30 às 23h30.
  • O Real brasileiro é mais forte que o Riel cambojano. Na época em que estivemos por lá, a cotação era de 1 para 713.
  • O Dólar americano é largamente aceito nas ruas, à taxa de 1 para 4 mil (em outubro de 2024).
  • O dólar americano é moeda corrente, mas o inglês ainda é escasso entre os Cambojanos. A língua oficial do Camboja é o Khmer. O alfabeto derivado do sânscrito é incompreensivel para os alfabetizados no sistema romano.

Comments

6 respostas para “Camboja é um mergulho na Ásia autêntica!”

  1. […] que você leia aquele primeiro. Lá eu conto mais sobre a nossa chegada a Siem Reap, a cidade do Camboja onde fica o Sítio Arqueológico de Angkor. Aqui, o tema vai ser principalmente a história do […]

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  5. […] O regime que eles ajudaram a criar, ironicamente, se chamava Kampuchea Democrática do Khmer Vermelho (leia no site do DESNORTEANDO o texto sobre Phnom Penh para entender a origem do termo Kampuchea). […]

  6. […] O regime que eles ajudaram a criar, ironicamente, se chamava Kampuchea Democrática do Khmer Vermelho (leia o texto sobre Phnom Penh para entender a origem do termo Kampuchea). […]