O turismo internacional é uma força transformadora. Para o bem e para o mal. Bali vem experimentando os efeitos dessa indústria nas últimas décadas. Nem mesmo a atriz Julia Robert, que em 2010 protagonizou Comer Rezar Amar, reconheceria a cidade de Ubud hoje em dia. Nos 14 anos que se passaram desde a filmagem, a ilha dos Deuses viveu um boom imobiliário que desperta uma discussão com uma questão central: como conciliar tradição e turismo?
No post de hoje vamos mostrar como essa equação foi solucionada no povoado de Penglipuran, cerca de 25 quilômetros a nordeste de Ubud. Antes de prosseguirmos, porém, uma galeria com fotos das vilas tradicionais do local.
O que são as vilas tradicionais em Bali?
- Complexo familiar que reúne moradias para o patriarca e seus filhos homens.
- Cada vila tem uma cozinha tradicional, construída em bambu, onde as mulheres da família cozinha juntas.
- O terreno também possui um complexo de pequenos templos, o sanggah, onde os familiares oram aos deuses e a seus antepassados.
- No Bale, um tablado de bambu suspenso do chão e coberto por um telhado, os membros da família se reúnem.
- As vilas seguem os princípios de Tri Hana Karana, que balanceia as relações entre deuses, humanos e o ambiente.
- As vilas são interligadas entre si por passagens. Os vizinhos circulam livremente entre elas.
- No portal de cada vila, uma placa indica o número de homens, mulheres e o total de habitantes.
O exemplo de Penglipuran
A visita ao povoado de Penglipuran surgiu como opção para conhecer de perto as tradições do Galungan, a principal festa do hinduísmo balinês. Para facilitar a visita, decidimos nos hospedar por lá. O AirBnb que escolhemos pertencia a um morador chamado I Nengah. Apaixonado pela história e tradições, ele passeou uma tarde conosco e explicou a forma de organização dos moradores e como conciliaram tradição e turismo.
A história de Penglipuran começa no século XVI, quando Bali ainda era governada por reis. Ela foi formada por moradores de outra região que eram especializados em religião, costumes e defesa. Esses moradores eram requisitados com frequência como conselheiros pelo rei de Bangli, I Dewa Gede Putu Tangkeban III. Em algum momento, o monarca decidiu conceder uma área para que esses viajantes descansassem, a cinco quilômetros de Bangli. Assim nasceu Penglipuran.
A cidade hoje
Atualmente, Penglipuran tem cerca de mil habitantes distribuídos em 229 famílias. Desses, 76 clãs têm status de moradoradores permanentes e habitam as vilas tradicionais. Essas vilas preservam as características milenares de arquitetura e organização da sociedade balinesa.
O turismo se tornou uma questão para Penglipuran nos anos 1990. Cada vez mais visitantes estrangeiros, os bules, apareciam por lá. O dinheiro começou a aguçar apetites por desenvolvimento imobiliário, o que poderia ameaçar a forma tradicional de vida. Os moradores então se reuniram em conselho para debater como conciliar tradição e turismo?
O conselho optou por manter a cultura tradicional. Os moradores poderiam abrir restaurantes, lojas e oferecer hospadagem. Desde que não abandonassem os conceitos tradicionais de edificação e organização social. Essa decisão garantiu a manutenção da terra nas mãos das famílias, sem a possibilidade de transformar as moradias tradicionais em vilas de luxo.
Deuses da tríade hinduísta
- Brahma – criador do universo inteiro.
- Shiva – o deus da destruição e da regeneração.
- Vishnu – responsável pelo equilíbrio entre as forças criadoras e destruídoras. É ele quem sustenta o universo.
Os templos principais
A vila tem três templos principais dedicados à trindade do hinduísmo.
Puseh, o templo mais antigo de Penglipuran, é dedicado Vishnu e está localizado no ponto mais sagrado da vila, ao norte, no ponto mais próximo ao vulcão Agung. Ao lado de Puseh está o templo Penataran, dedicado a Brahma. Ao sul da vila, portanto mais próximo da direção do mar, está o templo de Dalem, dedicado a Shiva.
Leia também
Planeje sua viagem
- Penglipuran pode ser visitada numa viagem de um dia. Agências de Bali oferecem o passeio com transporte por ônibus.
- Também possível contratar um motorista para levá-lo até lá.
- A entrada na área das vilas tradicionais é cobrada. Adultos pagam 50 mil rúpias indonésias (pouco menos de R$ 20 ao câmbio da época) e crianças, 30 mil IDR.
- Se você se hospedar com uma das famílias das vilas, fica isento de pagar as entradas para a área do templo.
- Penglipuran recebe em média 1.500 turistas por dia durante a semana, e cerca de 3.000 por dia nos fins de semana.
- Esse número pode dobrar em datas festivas como Galungan, que acontece a cada 210 dias (próximo será em março de 2025). Em compensação, o povoado está todo enfeitado.
- Em dezembro, o povoado sedia um festival de cultura que inclui uma celebrada dança típica balinesa com mais de 200 bailarinos. O festival dura seis dias. Este ano ele acontecerá de 12 a 18 de dezembro.
- Se optar por dormir na vila, nosso anfitrião I Nengah é uma ótima pedida. Demonstrando interesse, você ganha um passeio gratuito pela vila da família dele. Os quartos que aluga estão no AirBnb.
Comments
5 respostas para “Como conciliar tradição e turismo?”
[…] – Como conciliar tradição e turismo? […]
[…] meses em Bali. Por enquanto, limitamos nossos deslocamentos à própria ilha – com visitas a Penglipuran, Amed e ao Templo Agung Besakih –, ou a ilhas próximas, como no passeio a Nusa Lembongan. (Você […]
[…] Como concliar tradição e turismo? […]
Meu amigo Ferdi, a pergunta formulada não e de simples resposta. Essa questão aplicada a diferentes situações. Em seu caso de estudo, Bali, Indonésia, você traz a discussão aspectos de relevantes interesses no contexto, os quais fazem o leitor refletir sobre o tema. Em resumo, uma questão de bom senso, baseado em cultura, sensibilidade e humanismo. Muito bom!
Que bom te encontrar por aqui, Zé Roberto! Tem um outro post sobre agricultura regenerativa aí no Blog que talvez te interesse. Um abraço pra você e toda família.