Religião nunca foi meu forte, confesso. Batizado na Igreja Católica, cheguei à Primeira Comunhão e até aprendi as histórias bíblicas, Velho e Novo Testamentos. Tirando as orações que aprendi com minha avó na infância, porém, pouco do dogma cristão sobreviveu. Quanto mais penso no assunto, menos prováveis me parecem as promessas de vida eterna. Ou a existência do carma que guia a vida de 4 milhões de pessoas em Bali. Para tentar entender um pouco dessa fé que por aqui move não apenas montanhas, mas também lava de vulcão (continue lendo e você entenderá), fui dar um passeio no maior e mais sagrado templo de Bali.
Pura Agung Besakih
Pura, em bahasa, quer dizer templo. Agung é o nome da motanha mais alta da ilha, com 3.143 metros. O fato de essa montanha ser um vulcão explica o nome da vila mais próxima. Besakih seria uma derivação de Besuki, referência a Nasa Besukian, o Deus Dragão. Os balineses acreditam, portanto, que Nasa Besukian habita o vulcão Agung.
Também conhecido como Templo Mãe de Bali, o Pura Agung Besakih reúne um complexo de 23 templos a 1.000 metros de altitude, nas encostas do Vulcão Agung, na região leste da ilha.
É o maior e mais sagrado templo de Bali, palco de 70 festivais religiosos que atraem mais de 100 mil turistas todos os anos. Um lugar onde hindus de todas as castas são bem-vindos para para orar.
A história do maior e mais sagrado templo de Bali
Existem muitas lendas e incertezas sobre o momento exato do surgimento do Templo Agung Besakih.
Algumas histórias se baseiam em análises das bases de pedra do Pura Penataran, o principal do complexo, para atribuir a ele 2.000 anos de existência. Outras fontes, porém, contextam essa idade. Para essas, a construção do templo ocorreu em algum momento no século X.
O que se tem de certeza? Em 1248, o templo já existia. Foi nesse ano que os primeiros conquistadores javaneses chegaram a Bali e há registros da existência do templo.
Foi apenas no século XV, porém, que ele se tornou o principal local de devoção do hinduismo balinês. A dinastial Gelgel passou a governar a ilha nessa época, durante um período de independência de Java, e consagrou o Agung Besakih como templo estatal.
Em algum momento neste blog eu vou contar um pouco mais a história de Bali. Considero fundamental aprender sobre o passado para entender o presente. Podem me cobrar.
Os vários templos do complexo
Como em todos os locais sagrados do hinduísmo, o Agung Bersakih também tem três templos principais, dedicados aos três deuses da trindade: Brahma, Vishnu e Shiva. Eles estão localizados na parte central do complexo. Ao redor, outros 20 templos estão espalhados por seis terraços nas encostas do Agung.
Existem multiplas entradas no complexo, mas a entrada é feita por um portal tradicional balinês, todo em pedra, no alto de uma escadaria. De lá, o visitante vai acessando pátios e locais de oração, sempre em ascensão. As torres com vários telhados de palha são chamadas de “Torres Meru”, em referência ao Monte Meru, que simboliza os reinos cósmicos na mitologia hindu.
A combinação de templos e diferentes pátios de orações transformam o maior e mais sagrado templo de Bali num dos poucos locais onde hindus de todas as castas são aceitos e dispõem de um espaço onde podem orar.
A erupção de 1963
Eu compreendo que se tenha pensado em erguer um templo nas encostas de um vulcão. Num tempo de pouco conhecimento científico, apenas a existência de um deus Dragão poderia explicar as erupções. Logo, agradá-lo parecia a coisa mais lógica a se fazer para evitar que ele cuspisse fogo sobre as pessoas.
Agradar deuses, porém, não é uma coisa fácil. Ao construir o templo mãe de Bali nas encostas do Agung, os balineses criaram um problema. Quando uma grande erupção acontecer, como inevitavelmente acontece em vulcões ativos, como salvar o maior e mais sagrado templo da destruição?
Os balineses tiveram a oportunidade de experenciar na prática esse risco em 1963, última vez em que o Agung entrou em erupção. A lava foi expelida em grande quantidade. Milagrosamente, porém, o templo, escapou ileso. Nenhuma uma única fagulha pousou nos inúmeros telhados de palha que arderiam com facilitade ao menor contato com o fogo. A lava expelida, por sua vez, passou ao largo das construções.
Pura sorte? Ou uma prova do poder dos Deuses que, felizes com a devoção, pouparam o templo erguido para eles?
Os balineses, claro acreditam prova divina. Pena que os deuses tenham se preocupado apenas em proteger os templos, mas não quem se dedica com tanto empenho e orações a consagrá-los. A lava expelida pelo Agung em 1963 matou 1.700 almas devotas.
Mercado da fé
Uma grande diferença que eu havia notado em Bali desde a chegada, comparando-a a outros destinos superturísticos, era o fato de que aqui, os balineses não abordam os turistas com insistentes ofertas de serviços, souvenirs, ou mesmo pedindo dinheiro.
Essa diferença, no entanto, caiu por terra após a visita ao Pura Agung Besakih. Onde há fé, há sempre uma lojinha.
Os mercadores se instalaram em grande número nas escadarias do maior e mais sagrado templo de Bali. Tentam vender um pouco de tudo. De churrasquinho no espeto a oferendas rituais; de chapéus cônicos dos agricultores de arroz a máscaras típicas; de esculturas em madeira a cartões postais. As crianças, inclusive, aprendem a oferecer os postais em diferentes línguas. É uma estratégia para conquistar os turistas.
A oferta é feita em várias línguas, mas tirando o texto decorado, elas só conseguem conversar mesmo em Bahasa. Uma ou outra arranha um pouco de inglês. Eu puxei conversa com uma menina que acabou me explicando que não é fácil vender os postais. O truque da língua, porém, cativa e muitos turistas acabam dando uma pequena caixinha. Ela enfiou a mão no bolso e tirou um punhado de moedas de 1 euro.
Para o turista europeu, não é nada. Para as famílias balinesas pobres, no entanto, uma moedinha daquelas vale no mínimo 17 mil rúpias. Dez delas alimentam uma família local pelo menos por um dia.
Dicas práticas:
– O complexo Pura Agung Besakih funciona das 8h às 17h, todos os dias. Quanto mais cedo você conseguir chegar, melhor, porque o número de visitantes e o calor são menores.
– Os visitantes estrangeiros pagam entrada de 150 mil rúpias indonésias (pouco mais de R$ 50 ao câmbio de outubro de 2024). Indonésios e estrangeiros com visto de residência pagam 80 mil rúpias.
– Vestimenta típica tradicional é exigida durante a visita, mas está incluída no valor do ingresso.
– Teoricamente, um guia local também está incluído no preço. Na prática, porém, os guias esperam que você pague uma gorjeta ao final da visita. Leve algum dinheiro vivo.
– O acesso ao local é feito por carro, moto e também por ônibus de excursão.
– O complexo conta com área de estacionamento e carrinho de golfe para levar os visitantes da área de bilheterias até a entrada do templo.
– Prefira contratar o passeio com transporte, porque dirigir em Bali é desafiador. Além disso, as estradas até o templo são sinuosas e mal conservadas.
– Muitas pessoas tentarão lhe vender oferendas para deixar nos templos, mas você só precisará delas se pretende de fato orar aos deuses hindus.
– As épocas de festas como Galungan e Kuningan e Odalan são grandes oportunidades para ver o templo enfeitado. São, porém, os momentos de maior lotação. Leve isso em consideração.
– Visite o site oficial do Pura Agung Besakih para maiores informações.
Comments
Uma resposta para “O maior e mais sagrado templo de Bali”
[…] enquanto, limitamos nossos deslocamentos à própria ilha – com visitas a Penglipuran, Amed e ao Templo Agung Besakih –, ou a ilhas próximas, como no passeio a Nusa Lembongan. (Você pode relembrar cada um deles […]