Ela não está entre os dez destinos turísticos mais desejados do mundo nas listas dos guias e sites de viagens. Nem mesmo entre os vinte. Para muitos – e não me excluo da generalização –, Singapura quase sempre soa como um ponto vermelho no mapa imaginário da Ásia. Talvez por isso, a surpresa tenha sido enorme com tanta arte, organização e modernidade juntas na cidade-estado de pouco mais de 5,2 milhões de habitantes. Neste texto, vou contar um pouco da manhã que passamos lá e enumerar quatro experiências para entender Singapura.
Hub asiático
Singapura surgiu no nosso roteiro quase como uma escala técnica. Com um aeroporto ernome e moderno, a cidade se tornou um hub aéreo na Ásia. Muita gente troca de voo lá, mas, em geral, passa o tempo da conexão no aeroporto.
Nós estávamos a caminho do Camboja. Como nosso voo chegava na noite de sexta, e o voo seguinte saía na tarde de sábado, decidimos pegar dois quartos num albergue e dormir na cidade.
Não nos arrependemos. O tempo em Singapura foi curto, mas a cidade se revelou um destino interessante, com várias atrações para os visitantes. Antes de partirmos para as quatro experiências para entender Singapura, um pouco de história para explicar como a ilha conquistou o padrão atual de riqueza.
A cidade do leão
O nome da ilha significa “Cidade do Leão”, embora não existam leões na Ásia. Por aqui, o maior felino é o tigre. Conta a lenda, porém, que Singapura foi batizada por um príncipe de Sumatra que, ao desembarcar na ilha, teria avistado um leão.
Habitada originalmente por pescadores, Singapura viu seu destino mudar a partir de 1819. Um conquistador britânico, Thomas Stanford Raffles, decidiu fixar ali um porto. Sob ocupação inglesa, a ilha se tornou um centro comercial e sede de bases navais da Real Marinha de Sua Majestade.
Essa presença, no entanto, não garantiu a tranquilidade. Durante a Segunda Guerra Mundial, a ilha foi ocupada pelo Japão. Ao final do conflito, porém, Singapura voltou ao domínio britânico até 1959. Dos ingleses, pulou para o domínio da Malásia por um curto período, antes de finalmente se tornar independente, em 1965.
A atração sobre estrangeiros, porém, nunca cessou. A ilha conta com ampla população de variadas origens, o que resultou na adoção de quatro idiomas oficiais: inglês, malaio, chinês e tâmil.
A tradição comercial e exportadora se expandiu. Hoje o país tem o segundo maior porto de containers do mundo, atrás apenas de Xanghai, na China. A esse porto somam-se a produção industrial petroquímica e eletrônica de ponta.
“A fine city”
A caminho do hotel, o motorista do Grab – espécie de Uber do sudoeste Asiático – encadeia as perguntas de praxe. De onde somos? Por que estamos viajando? Estamos gostando de Singapura? A resposta positiva era a deixa que ele queria…
– Yeah, Singapura is fine… Fine for everything!
A piada só faz sentido em inglês. A palavra fine tem duplo sentido. Um deles, mais corrente, seria “bacana” no sentido de bacana. Mas ela também é a tradução para “multa”.
A limpeza e a organização que encantam os turistas são mantidas com mão de ferro. O país, altamente vigiado por câmeras de CCTV, tem multas para tudo.
No trem que tomamos para voltar ao aeroporto, os meninos começaram a comer um sanduíche e um passageiro logo os alertou para que parassem: a multa por comer no trem é de 500 Dólares Singapurianos.
Singapura é cara?
A moeda de Singapura é o Dólar Singapuriano. É mais forte que o Real Brasileiro, mas mais fraca do que o Dólar Americano. Para tristeza do finado Raul Seixas, portanto, um dólar deles não paga o nosso mingau. Valia cerca de R$ 4,00 ao câmbio da época em que lá estivemos. Isso torna a cidade mais cara para turistas brasileiros. O recente crescimento do setor financeiro contribuiu para o aumento do custo de vida por lá.
A quantidade enorme de voos que chegam e partem do Aeroporto Changi, porém, ajuda a baratear um pouco as passagens. Por isso é comum viajantes do mundo todo, a caminho de outros destinos na Ásia, fazerem escala em Singapura.
Se você conseguiu economizar na passagem passando por lá, então pode aproveitar um pouco as atrações da cidade. Vamos finalmente às quatro experiências para entender Singapura.
Quatro experiências para entender Singapura
Como você já sabe, a ideia aqui no DESNORTEANDO é focar em vivências mais profundas. O período de uma manhã, porém, está longe do ideal para esse tipo de experiência. Apesar disso, conseguimos encaixar rápidas impressões da vida cotidiana no país das quatro línguas oficiais. Começando, de cara, pelo café da manhã.
1. A torrada do Ya Kun Kaya
O café da manhã tradicional em Singapura é na Ya Kun Kaya Toast, uma espécie de Starbucks local. Além de provar o que os singapurianos comem a caminho do trabalho todas as manhãs, você também aprende a história desta rede. Não deixa de ser um retrato da formação da ilha.
Fundada em 1944, a Ya Kun Kaya é fruto do sonho de um jovem chinês chamado Loi Ah Koon, que desembarcou sozinho em Singapura em 1926, aos 15 anos de idade. Trazia consigo apenas uma mala de roupas. Isso não o impediu, porém, de prosperar. Depois de trabalhar em cafés de outros chineses na ilha, Koon abriu o próprio negócio em 1944 e trabalhou duro para transformar a Ya Kun Kaya Toast numa rede com franquias espalhadas por toda a ilha.
2. Passeio pela Marina da Baía
A Marina da Baía de Singapura é uma mistura de parque público, museu de arte a céu aberto e centro arquitetônico moderno. Idealizado a partir de 1971, o projeto criou novas áreas para desenvolvimento imobiliário na histórica Baía da cidade.
O aterramento de enormes espaços marítimos somou mais de 360 hectares disponíveis para a construção de modernos arranha-céus, museus e shoppings que formam o novo centro financeiro de Singapura. É uma das áreas mais ricas da cidade. Ali as pessoas se exercitam e passeiam nos fins de semana. Confira na galeria as imagens do ambiente que encontramos por lá.
3. A arte está no ar
Na área moderna da Marina, no entanto, os planejadores não se limitaram a abrir espaço para o crescimento imobiliário. Houve também preocupação em promover interações artísticas com os visitantes. O Museu de Arte e Ciência, por exemplo, imita o formato das flores de Lótus que estão espalhadas pelo espelho d’água sobre o qual ele foi construído.
Outro bom exemplo são os bancos públicos espalhados ao longo do percurso. Criados em formatos inovadores, eles misturam à banal função de ponto de descanso um certo conceito de instalação arquitetônica. E um desafio aos meus dois filhos adolescentes.
4. Interatividade e caminhos subterrâneos
De repente, você entra num shopping e uma bicicleta passa ao seu lado. Ali, pintada de vermelho no chão, está a continuação da ciclovia que vem da rua e atravessa por dentro do espaço comercial.
No mesmo shopping, uma parede de escalada sobe do subterrâneo ao quarto andar, pelo vão central. Os caminhos que saem do subterrâneo se interligam com outros shoppings e estações de trem e metrô que nos levam ao aeroporto, extretamente moderno, de onde voamos para o nosso próximo destino. Não sem antes nos divertirmos, claro, com a interatividade que também está por toda a parte no saguão de embarque.
Assista ao vídeo em que Luca faz sua estreia como repórter para entender melhor do que estamos falando.
Dicas práticas
– Nós não tivemos tempo de visitar, mas outra atração bem contada da cidade é o Jardim Botânico. Com 82 hectares, é um dos três jardins botânicos do mundo nomeados como Patrimônio da Humanidade pela Unesco. Fundado em 1859, ele foi usado para aclimatar a seringueira, cujas mudas foram roubadas pelos bucaneiros britânicos da Amazônia Brasileira. Funciona diariamente das 5 à meia-noite. A entrada é gratuita.
– Outra atração que não pudemos visitar são os Jardins da Baía, que cobrem 101 hectares de áreas aterradas. O complexo conta com vários passeios. Destaque para as 18 superárvores construídas em metal e madeira. Com mais de 50 metros de altura e placas solares nas copas, elas formam uma “floresta futurística”. Etão interligadas por uma passarela na qual os visitantes podem caminhar, pagando ingresso. À noite, ficam iluminadas. Os preços começam a partir de 27 dólares singapurianos e variam de acordo com o passeio desejado.
– Os bairros de Chinatow e Little India, com repletos de restaurantes típicos, também são atrações interessantes que tivemos de deixar para futura visita
Nem tudo brilha em Singapura
Você chegou até aqui e agora está se perguntando: Singapura é o paraíso na terra? É tudo perfeito por lá?
Como todo crente sabe desde que aprendeu a rezar, não existe céu sem inferno. Singapura, embora se esforce por mostrar seu lado brilhante aos visitantes, tem também os purgatórios para quem lá vive fora da bolha dos expatriados ricos atraídos pelo pujante setor financeiro.
Entre os pecadilhos pouco luminosos figura a falta de liberdade democrática. O atual primeiro-ministro governa e dita as regras há quase 20 anos praticamente sem oposição. Ele chegou ao cargo como sucessor do próprio pai. Outro problema atinge os imigrantes pobres – cerca de 40% da população. São eles os responsáveis por manter em funcionamento atividades como limpeza urbana e construção civil, por exemplo. A eles, porém, é negado o acesso a serviços básicos como saúde e assistência social.
Se você se interessa pelo lado menos “turístico” de Singapura, clique neste link para ler uma excelente matéria da edição portuguesa do Le Mond Diplomatique.
Leia também:
– Hora de ampliar horizontes pelo Sudeste Asiático
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3 respostas para “Quatro experiências para entender Singapura”
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[…] coisas de se viajar com adolescentes é o humor afiado que eles às vezes demonstram. Depois da experiência ultrapasteurizada em Singapura – tudo perfeitinho, planejadinho, limpinho –, a chegada a Phnom Penh foi, digamos, […]